5Dec 2021
00:00 UTC
#linguistweets
#abralin

Program

5Dec 2021 03:00 UTC Local time *

Não existe complemento circunstancial!

Thiago Melo (UFRJ)

Com os avanços dos estudos linguísticos, o complemento circunstancial voltou à discussão. Isso, contudo, é injustificado. Afinal, essa categoria sintática não é c-selecionada nem s-selecionada, como evidente em “Ele mora [em Jacarepaguá]”, “Ele mora [bem]” e “Ele mora [sozinho]”.

Na Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), as classificações de complemento relativo (“O Diogo gosta [do Flamengo] ”) e de complemento circunstancial (“O Alessandro mora [em Jacarepaguá]”), apontadas por Rocha Lima (2011) foram abandonadas; elas foram conjugadas, respectivamente, aos rótulos de objeto indireto e adjunto adverbial. No entanto, estudos linguísticos contemporâneos do português resgataram esses conceitos (cf. DUARTE, 2018). De fato, a distinção entre objeto indireto de (1) e complemento relativo de (2) é clara: apenas aquele é marcado com caso dativo, o que permite a substituição pelo pronome clítico “lhe”:

(1) a. O Mario enviou a carta à Clara.
b. O Mario enviou-lhe a carta.

(2) a. O Diogo gosta do Flamengo.
b. *O Diogo gosta-lhe.

Aliado a isso, os objetos indiretos possuem, tipicamente, traço [+animado] e recebem papel temático de beneficiário/alvo. Há, portanto, motivações sintáticas nessa divisão. O objetivo deste trabalho, contudo, é mostrar que o resgate da noção de complemento circunstancial, em oposição ao adjunto adverbial, é infundado. A ideia de uma categoria sintática “de natureza adverbial – tão indispensável à construção do verbo quanto, em outros casos, os demais complementos verbais” (ROCHA LIMA, 2011, p. 311) baseia-se somente em fatores semânticos, enquanto o privilégio desse critério na tradição gramatical é duramente criticado pelos próprios trabalhos que retomam essa classificação: “[as definições das gramáticas tradicionais] misturam critérios semânticos e sintáticos” (DUARTE, 2018, p. 185). Uma análise a partir do arcabouço teórico da Teoria Gerativa, sobretudo em sua formulação lexicalista chomskyana, deixa evidente que o chamado complemento circunstancial não é c-selecionado nem s-selecionado pelo verbo, como fica evidente em “O Alessandro mora [em Jacarepaguá]”, “O Alessandro mora [bem]” e “O Alessandro mora [sozinho]”. Isto é, os sintagmas em questão não são subcategorizados pelos verbos e não recebem papel temático regularmente de seu (suposto) predicador – ao contrário do que é esperado em relações argumentais. O verbo “morar” é, flagrantemente, intransitivo – e não transitivo circunstancial. A inaceitabilidade de sentenças como “O Alessandro mora” é equivalente à de sentenças como “Chove”, cujo verbo é amplamente reconhecido como intransitivo; ela não é resultado de uma derivação sintática falha, em que a grade argumental esteja incompleta, mas sim de uma estranheza de natureza pragmática. Essas sentenças transmitem, afinal, informações óbvias: todo mundo mora (seja em algum lugar, de algum modo ou com/sem alguma companhia). O que há, nesses casos, é a quebra da máxima da quantidade (GRICE, 1975).

Não existe complemento circunstancial! #linguistweets #TW0300 #Linguística #Gerativismo #EstruturaArgumental #Abralin #UFRJ #CAPES Eu moro [no Rio de Janeiro]. Como classificar o sintagma entre colchetes? Em aulas de análise sintática no ensino básico, isso pode ser um desafio. https://t.co/aaPYqsbCxZ
5Dec 2021 03:15 UTC Local time *

Caxa, quexo, loco: por que ditongos são monotongados?

Propomos uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de fornecer um panorama acerca do fenômeno de monotongação no português brasileiro.

Nas aulas de português na educação básica, aprendemos que ditongo é o encontro de vogal (a, e, i, o, u) e semivogal (i, u) numa mesma sílaba. Os ditongos, assim definidos, são classificados em decrescentes, nos quais a semivogal sucede a vogal, como em cadeira; e em crescentes, nos quais a semivogal antecede a vogal, como em ciência. No português brasileiro, os ditongos decrescentes têm comportamento variável: itens como primeiro podem ser realizados como primero [pɾiˈmeɾʊ]; embaixo, como embaxo [ẽˈbaʃʊ]; tesoura, como tesora [teˈzoɾə]. Ocorre o que definimos como processo de monotongação, em que o ditongo é reduzido a um monotongo, prevalecendo a realização da vogal. O fenômeno de monotongação já foi amplamente descrito em diversas variedades do português brasileiro. No entanto, os resultados desses estudos nunca foram sistematizados, de modo a fornecer uma visão abrangente sobre o fenômeno, que possa, por exemplo, subsidiar ações propositivas de ensino. Portanto, propomos uma revisão sistemática da literatura que reúne e unifica as informações dispersas nesses estudos, com o objetivo de oferecer um panorama acerca dos ditongos monotongáveis no português brasileiro e sobre quais são os condicionamentos do processo. Os resultados apontam que os ditongos alvo do fenômeno são, em ordem decrescente de percentual de monotongação: [oʊ̯], [eɪ̯], [aɪ̯] e [oɪ̯]. A monotongação de [oʊ̯] é vista como uma mudança já implementada no português brasileiro, sem restrições linguísticas ou sociais (HORA; SILVA, 1998; LOPES, 2002; CRISTOFOLINI, 2011; FREITAS, 2017; SILVEIRA, 2019). A monotongação de [eɪ̯] tem motivação estrutural relacionada principalmente ao contexto fonológico seguinte constituído por tepe [ɾ] e, com menor força, por consoantes palatais [ʃ, ʒ] (ARAUJO, 1999; LOPES, 2002; FARIAS, 2008; TOLEDO, 2011; HAUPT, 2011; AMARAL, 2013; CYSNE, 2016; SANTOS; ALMEIDA, 2017; FREITAS, 2017; SILVEIRA, 2019; SOUZA, 2020). Nesse ditongo, variáveis sociais são pouco influentes; com sensibilidade apenas no que tange ao nível de escolarização do falante. A monotongação do ditongo [aɪ̯] é restrita a dois contextos propícios específicos: em sílaba aberta, em contexto seguido de consoante palato-alveolar [ʃ, ʒ], sendo o ditongo preservado nos demais contextos; e em sílaba fechada, em itens como mais, quando a fricativa final é palatalizada (HORA; SILVA, 1998; HAUPT, 2011; FREITAS, 2017). A monotongação do ditongo [oɪ̯] é a menos frequente, ocorre em sílabas fechadas e em itens lexicais específicos, nos quais a fricativa final é palatalizada (HAUPT, 2011; SILVEIRA, 2019). Os resultados de estudos acústicos apontam ainda que a forma monotongada possui características intermediárias entre ditongo preservado e vogal simples.

#linguistweets #TW0315 Nas aulas de português, aprendemos que ditongo é o encontro de vogal (a, e, i, o, u) e semivogal (i, u) numa mesma sílaba. No entanto, no português brasileiro, ditongos tidos como decrescentes podem ser monotongados, isto é, a semivogal pode ser apagada!
5Dec 2021 03:30 UTC Local time *

Estudo sobre estratégias para a compreensão leitora.

Estudo sobre estratégias para a compreensão leitora com estudantes do 6º ano do EF a partir da pesquisa experimental na forma de uma oficina de extensão. O estudo mostrou aumento de uso das estratégias de leitura.

Estudo sobre estratégias para a compreensão leitora com estudantes do 6º ano do ensino fundamental desenvolvido a partir da pesquisa experimental, em Psicolinguística, com um grupo de estudantes da Escola de Educação Básica Eliseu Guilherme, em Ibirama, na forma de uma oficina realizada em 2014 através de uma ação de extensão decorrente de projeto aprovado pelo Instituto Federal Catarinense. A pesquisa foi realizada em três momentos: pré-teste, oficina e pós-teste, abarcando três mecanismos de geração de dados com os participantes e uma oficina de dez encontros. O estudo realizado mostrou aumento de uso das estratégias de leitura por parte dos participantes da oficina.

Estudo sobre estratégias para a compreensão leitora com estudantes do 6º ano do EF a partir da pesquisa experimental na forma de uma oficina de extensão. O estudo mostrou aumento de uso das estratégias de leitura. #linguistweets #TW0330
5Dec 2021 03:45 UTC Local time *

Línguas indígenas de sinais: uma reflexão sobre as emergências linguísticas

Ana Carolina Machado Ferrari (UNIR)

Co-author: Patrícia Goulart Tondineli (UNIR)

Nos tempos atuais se faz essencial refletir sobre a emergência das línguas de sinais indígenas e a urgência de seus estudos enquanto forma de revitalização linguística e, consequentemente, parte da resistência dos povos indígenas.

Este trabalho, que é parte de uma pesquisa de mestrado em Letras em andamento, tem por objetivo refletir sobre a emergência das línguas de sinais indígenas e a urgência de seus estudos enquanto forma de revitalização linguística e, consequentemente, parte da resistência dos povos indígenas. A partir dos resultados obtidos através de uma pesquisa bibliográfica no banco de Teses e Dissertações da CAPES, utilizando para isso os descritores: “Língua de sinais indígenas”; “Língua de sinais emergentes”; e “Indígenas surdos”, foram localizadas quinze pesquisas realizadas entre os anos de 2008 e 2020 que abordaram a temática “indígena surdo” e destas, dez investigaram especificamente as línguas indígenas de sinais de diversos povos: Terena, Sateré-Mawé, Paiter Suruí, Guarani Kaiowá e Akwê Xerente. Embora a Libras seja reconhecida enquanto língua de sinais dos surdos brasileiros, as pesquisas existentes alicerçaram discussões sobre a existência de línguas de sinais específicas em diversos Territórios Indígenas, bem como sua inter-relação com a cultura e a sua importância nas práticas comunicativas dentro do território, levando-nos a refletir sobre a importância do mapeamento dessas línguas para a garantia dos direitos linguísticos dos indígenas surdos.

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a emergência das línguas de sinais indígenas e a urgência de seus estudos enquanto forma de revitalização linguística e, consequentemente, parte da resistência dos povos indígenas. #linguistweets #TW0345
5Dec 2021 04:00 UTC Local time *

Hosting – a reflexive digital media practice

Mark Dang-Anh (IDS Mannheim)

Hosting as pivotal media practice in mediated interaction & discourse. Q: How does host. socially relate participants to each other? Data: journalistic mobile live video stream. Method: sequence analysis. Result: Hosting brings forth situational dominance & asymmetry.

Mobile live video streaming with smartphones is an everyday media practice in which the participants are in a specific multimodal constellation and streamers and viewers have access to various semiotic resources for interactionally establishing alignment. Based on the multimodal sequence analysis of a concise episode of a journalist’s livestream coverage on the streaming platform Periscope, I will address the question of how discourse in live video streams is organised by the participants. I will show that hosts in the media practice of live video streaming act in an interaction-dominant manner and involve the viewers in the situation through asymmetrical participation coordination.

Whenever people communicate, especially digitally, the interaction that takes place is conditioned by medial affordances. In digital settings, hosts play a central role precisely when they can decisively dominate these medial conditions. Hosting is thus to be understood as the arrangement of mediated digital interaction, through which the host unilaterally conditions the medial, multimodal, and semiotic framework and resources of an interaction situation by both prospectively setting it up and continuously administrating it. In my Twitter presentation, I will address specific linguistic features by which hosting is constituted as a reflexive linguistic practice in the course of a mobile livestream conversation. I will do so by initially showing a video sequence and subsequently discussing multimodal transcripts. I will point out how the host uses indexical references to establish the participation framework between the host and the audience.

Hosts, as will be shown, address three fundamental dimensions of a situation which, following Bühler’s notion of the speech situation can be defined as the spatial, temporal, and personal constellation practically made present in interaction. ‘Making-present’ is thus to be seen as a situation-constitutive practice through which participants express situations, but also create them in the first place. Live broadcasts such as video streams are particularly dependent on ongoing situational practices of ‘making-present’ due to their ongoing ephemerality.

Hosting is a media practice that presituatively prepares digital interaction situations with regard to the orientation of the participants and dominates them situatively. The host thus adopts the potential to act semiotically and delegate participation status. In the excerpt discussed, the opening sequence, the camerawork, the set-up on the account of the live video stream platform, and also the point in time chosen for focused interaction constitute hosting as reflexive, i.e. displaying itself as a media practice. The discussion contributes to the pragmatic debate on digital interaction and, in the tradition of media linguistics, puts a special focus on the linguistic constitution of meaning under consideration of its medial circumstances.

#linguistweets #TW0400 Hi! Let's talk about the media practice of ░h░o░s░t░i░n░g░ in mobile live video streams. How does it socially relate participants in mediated discourse to each other? Let's delve straight into a journo's Periscope stream. 1/
5Dec 2021 04:15 UTC Local time *

Self-motivation, WTC, and the Linguistic Self

Nadine Nasef (MIU)

This research examines the contribution of Egyptian EFL learners’ self-motivation and linguistic self-confidence in their proficiency and language-use anxiety to their willingness to communicate (WTC), as well as the possible impact of age and gender on the learners’ L2 results.

People always quote, “We are all the same.” Is this really the case? For us human beings, are we really the same with no slight difference? When we say “same”, it is about the way we communicate, our etiquette, our lifestyle, and our emotions as well. This quote is just flawed in a specific perspective, especially when we examine our way of learning language and how we get motivated and most importantly, motivate ourselves; we are the opposite of the same! For this purpose, it becomes a major essentiality to inspect or investigate the theoretical anatomy of “motivation” in second language acquisition and learning. This poster offers to throw light on the essence of motivation and mainly ‘self-motivation’ as a catalyst to reach linguistic self-confidence and therefore self-competence in linguistic communication. This quantitative research scenario examined the contribution of Egyptian EFL learners’ motivation, self-motivation, and linguistic self-confidence in their proficiency, as well as language-use anxiety to their willingness to communicate (WTC) level, along with a minor possible impact of age and gender on the learners’ reported L2 WTC. 50 university students – 25 freshman students vs. 25 graduating senior students – were randomly selected to fill in a questionnaire for this study. Results indicated that L2 self-motivation and self-confidence made a remarkable contribution to the prediction of L2 WTC. Furthermore, it was found that the learners’ age and gender did not make a statistical difference to their WTC, since the learners were freshmen vs. graduating seniors. The findings could contribute to the ongoing debates on the theory and practice of WTC and feed into further research that is germane to second language pedagogy and learners’ self-motivation to be willing to communicate in their
second language.

It is worth examining how L2 learners engage by posing the following questions: 1) To motivate myself: Is that even possible?; 2) To what extent does self-motivation outweigh extrinsic motivation in L2 learning? #linguistweets #TW0415 1/6
5Dec 2021 04:30 UTC Local time *

O plural não-individualizante no português brasileiro

Alan Motta (UFRJ)

O morfema -s em português brasileiro desencadeia uma leitura de multiplicidade de indivíduos. A palavra ‘livros’, por exemplo, indica, pelo menos, mais de um livro. Mas nem sempre é assim.

Considere a seguinte frase:
(1) Eu estou com saudades de você.
Já é sabido que o morfema -s em português codifica plural e o plural codifica uma multiplicidade de indivíduos. Na frase acima, temos o nome ‘saudades’ que está no plural e, portanto, deveria estar quantificando indivíduos – isto é, instanciações de uma mesma entidade, no caso, ‘várias saudades’ – mas esse não parece ser esse o caso.
É difícil imaginar alguém interpretando a frase (1) como vários tipos de saudade ou mesmo interpretar ‘saudades’ como múltiplos momentos de saudade, embora essas sejam interpretações possíveis.
Temos duas explicações para este caso: ou o nome ‘saudades’ quantifica múltiplos indivíduos, como a literatura prediz (mas que não faz muito sentido do ponto de vista interpretativo); ou ele não quantifica indivíduos, o que até onde sabemos, é algo pouco estudado na literatura semântica de língua portuguesa.
Caso a segunda opção esteja correta, estamos diante de um plural não-individualizante. O plural não-individualizante é um plural que não quantifica sobre indivíduos, mas sim outros tipos informação pragmática como intensidade, abundância, formalidade entre outros. Independente desses usos, o plural não-individualizante caracteriza-se por ser um plural marcado morfologicamente, mas que não veicula informação de quantificação de indivíduos. É um plural claramente não canônico.
Na prática, o que queremos dizer é que o nome ‘saudades’ em (1) é simplesmente ‘uma grande saudade’ ou simplesmente ‘saudade’ e não ‘mais de uma saudade’ como a literatura prediria.
Neste trabalho, vamos fazer uma aproximação deste fenômeno no português brasileiro e em outras línguas. Para o português, montamos um experimento para tratar da interpretação destes nomes. Nós utilizamos seis nomes abstratos: três contáveis (dores, regalias e dificuldades) e três massivos (ciúmes, saudades e cócegas).
Os participantes leram dois contextos específicos: um favorecendo cardinalidade e um segundo favorecendo massividade/intensidade. Por exemplo, com o nome ‘dores’, o primeiro contexto mostrava um personagem fictício sofrendo com três pequenas dores no corpo. O segundo mostrava um outro personagem sofrendo uma única grande dor, como uma picada de cobra. Ao final dos dois contextos, o participante lia e respondia a pergunta ‘Quem sentiu mais dores? Personagem A ou B?’.
Se o falante escolhesse o segundo contexto, o plural não estava desencadeando uma multiplicidade de dores, mas só uma única grande dor. Um caso claro de plural não-individualizante.
Os resultados do teste mostraram que todos os nomes analisados, tanto massivos, quanto contáveis; tiveram uma interpretação massiva, ou seja, o plural estava se referindo a uma única entidade. Os resultados do estudo desafiam o que está postulado na literatura massivo-contável sobre o morfema -s no português, tanto para nomes massivos e especialmente para nomes contáveis.

Desde pequeno, a gente aprende que o -s indica plural nas palavras – tipo cachorro vs cachorroS. Mas sabia que nem sempre esse plural se refere a mais de uma entidade? O plural de algumas palavras significa... o singular delas! Segue o fio pra entender isso #linguistweets #TW0430 https://t.co/FWfjH6Zt6o
5Dec 2021 04:45 UTC Local time *

Multiletramentos e LD: um olhar discursivo sobre leitura/escrita

Ricardo Martins (IFSPE)

Através da Análise do Discurso materialista, objetivamos realizar um estudo discursivo sobre as práticas de leitura/escrita que envolvem os multiletramentos presentes no livro didático de língua inglesa a fim de determinar as condições de produção dessas práticas.

Desde 1996, o Grupo de Nova Londres (GNL) vem chamando a atenção para o desenvolvimento de uma sociedade plural não só linguística como também culturalmente que se comunica cada vez mais por multiletramentos, ou seja, por textos multifacetados que envolvem diversas semioses e circulam ampla e rapidamente em ambientes cada vez mais digitais. No manifesto A Pedagogy of Multiliteracies (1996), o GNL propõe pensar essas questões que mencionei, mas direcionando-as à escola na defesa de uma pedagogia dos multiletramentos. No Brasil, os multiletramentos integram propostas em documentos oficiais como, por exemplo, a BNCC, que por sua vez influenciam/orientam a produção de livros didáticos (LD). Minha pesquisa, então, objetiva realizar um estudo discursivo sobre as práticas de leitura/escrita que envolvem propostas de multiletramentos presentes no LD Alive High de língua inglesa (MENEZES et al., 2016) a fim de determinar as condições de produção (CP) dessas leitura/escrita e em que sentido essas leitura/escrita se filiam a movimentos parafrásticos (da ordem do mesmo, do repetível) ou polissêmicos (da ordem do novo, do criativo). Usarei o dispositivo teórico-analítico da Análise do Discurso (AD) materialista me apoiando nos trabalhos de Orlandi ([1988], 2012), Pêcheux ([1969], 2019) e Courtine ([1981], 2014) para tratamento do corpus. O corpus será constituído de 19 atividades de leitura/escrita extraídas dos três volumes da coleção Alive High; essas são as atividades de leitura/escrita mais representativas da proposta de atividades que trabalham com os multiletramentos no LD escolhido, ou seja, um grupo de atividades que trabalham com a leitura/escrita na produção de sentidos em textos multifacetados compostos de diversas semioses. Escolhi a referida coleção, dentre outras disponíveis, através dos seguintes critérios: a) é a única que trabalha com a abordagem complexa de aprendizagem de línguas (as outras trabalham com abordagens sócio-histórico cultural/sociointeracional) e isso pode representar um ponto interessante para a análise, ao invés de escolher obras que se repetem quanto à abordagem adotada; b) apresenta uma tiragem significativa de exemplares (quase 04 milhões) desde que começou a figurar como opção de escolha no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) alcançando um público significativo de alunos, professores e escolas; c) terceira obra de língua inglesa mais escolhida desde 2015, de acordo com dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE, 2021), sem nunca ter saído do catálogo desde então, o que demonstra boa adesão por parte de professores/escolas. Minha hipótese inicial é a de que as CP das atividades de leitura/escrita que envolvem os multiletramentos no LD escolhido, muito embora apontem também para movimentos polissêmicos, apontam muito mais para movimentos parafrásticos.

Multiletramentos e Livro Didático: um olhar discursivo sobre leitura/escrita. Objetivamos realizar um estudo discursivo sobre as práticas de leitura/escrita que envolvem os multiletramentos presentes no LD-Inglês e as condições de produção dessas práticas. #linguistweets #TW0445
5Dec 2021 05:00 UTC Local time *

A Semântica da Construção Bem Que X

Clara Sousa (UFRJ)

A Construção Bem Que X pode ser ilustrada por “Bem que minha mãe avisou que ia chover” e “Bem que ela podia me dar um doce”. Nota-se que a literatura ainda não apresentou uma proposta de generalização semântica que dê conta de explicar seus usos. É o que pretendemos fazer aqui.

A Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995; HILPERT, 2010) é um modelo que postula que a totalidade do conhecimento linguístico do falante pode ser representada por uma rede de construções: pareamentos de forma e significado. Essa teoria tem se destacado pelos estudos de idiomaticidade – uma vez que não diferencia léxico de regras gramaticais, o tratamento dessas estruturas intermediárias é melhor viabilizado. Nesse sentido, este trabalho propõe uma análise semântica de uma construção idiomática específica do português brasileiro: a Construção Bem Que X, que pode ser ilustrada pelas frases (1-4); e cuja semântica pode ser de difícil elaboração senão por meio de um estudo sistemático e aprofundado.
(1) Todo mundo desencalhou na virada. Bem que minha mãe avisou que não sou todo mundo.
(2) Para uma religião [o cristianismo] que prega o amor e compaixão, eles bem que mataram muito em nome do fanatismo.
(3) Bem que podia ter um botão na Netflix “continuar onde você pegou no sono”.
(4) O desgoverno bem que tentou aparelhar todas as instituições, mas falhou. Esse é o motivo do desespero!
Por meio de uma análise qualitativo-interpretativa de 500 dados dessa construção levantados no Twitter (de onde foram retirados os exemplos citados), foi identificado que essa construção representa um nó na rede que é hierarquicamente superior a outras 4 subconstruções: a de Confirmação, exemplificada em (1); a de Desafio, exemplificada em (2); a de Desejo, exemplificada em (3); e a de Lamento, exemplificada em (4). A cada um desses quatro padrões estão associados sentidos específicos, que se diferenciam no nível mais baixo da rede, mas que apresentam similaridades no nível mais alto. Nessa perspectiva, a análise semântica realizada se pauta na Estrutura Informacional de Lambrecht (1994), sobretudo nos conceitos de proposição, pressuposição e asserção: no nível mais esquemático, a construção Bem Que X apresenta a presença de uma asserção que contrasta com uma pressuposição anterior. No nível menos esquemático, no caso de Subconstrução de Confirmação, há a pressuposição 1 de que um sujeito elaborou uma proposição P; a pressuposição 2 de que o falante não tomou a proposição P como verdadeira; e a asserção de que o falante admite a verdade de P e lamenta seu erro. Na Subconstrução de Desafio, há a pressuposição de que há algum grau de improbabilidade na proposição P de X; e a asserção de que o falante, apesar disso, deseja o conteúdo da proposição P de X. Na Subconstrução de Desejo, há a pressuposição de que existe uma determinada proposição P’; e a asserção de que uma proposição P põe em cheque/contraria a proposição P’. Por último, na Subconstrução de Lamento, há uma pressuposição de que um sujeito não tentaria realizar uma ação; e a asserção de que o sujeito tentou realizar essa ação e que é lamentável por algum sujeito o fato de que ela não alcançou seus objetivos.

Você já deve ter ouvido frases como essas: "Bem que eu queria um doce agora..." "Bem que minha mãe avisou que ia chover!" A pergunta é: você já se perguntou por que usamos o "Bem que" nessas frases? Qual o sentido sendo acrescentado na frase por ele? #linguistweets #TW0500
5Dec 2021 05:15 UTC Local time *

Palatalização de /S/ na fala mipibuense

Gabriel Sales (UFRJ)

Co-author: Carla Maria Cunha (UFRN)

Este trabalho objetiva sistematizar, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística (LABOV, 2008) e da Geometria de Traços (CLEMENTS; HUME, 1995), o processo de palatalização de /S/ na fala de São José do Mipibu, cidade da região metropolitana de Natal – RN.

Este trabalho objetiva sistematizar, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística (LABOV, 2008) e da Geometria de Traços (CLEMENTS; HUME, 1995), o processo de palatalização de /S/ na fala de São José do Mipibu, cidade da região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte. Os dados foram coletados através de entrevistas sociolinguísticas realizadas com quatro participantes, subagrupados conforme gênero (masculino e feminino), faixa etária (abrangendo jovens e adultos – um jovem de 18 anos, uma jovem de 23; uma adulta de 47 anos e um adulto de 55), e nível de escolaridade (um homem e uma mulher com, no máximo, ensino médio completo e um homem e uma mulher com ensino superior em curso). O tratamento dos dados envolveu transcrição fonética de oitiva seguida de inspeção acústica das realizações de /S/ no software Praat. A interpretação do fenômeno de palatalização, nos dados da comunidade em foco, aponta a ação do Princípio de Contorno Obrigatório (OCP) como desencadeador de um processo dissimilatório que evita sequência de segmentos com traço [coronal], sendo categórica a realização palatalizada de /S/ diante das consoantes /t/ e /d/ no onset seguinte. É identificada, ainda, uma ampliação das consoantes promotoras do processo em comparação ao que relatam trabalhos anteriores, como o de Pessoa (1986): os dados registram palatalização de forma variável diante de consoantes nasal e líquida, /n/ e /l/. Diante de /n/, é identificada variação entre as produções alveolar e palatalizada de /S/ nos dados de todos os entrevistados, independentemente de características socioculturais, com predominância da realização [coronal] [-ant] [+dist]. Já diante de /l/, a palatalização se manifesta em proporção bastante inferior e na fala de apenas um informante, indicativo de que a palatalização de /S/ nesse contexto está em um estágio bastante inicial. Com isso, estabelecemos uma gradação da aplicação do processo: começa a ser desencadeado por segmentos com características mais consonantais da escola de sonoridade (/t/ e /d/, obstruintes) e passa a atingir sons menos consonantais (/n/ e /l/, nasal e líquido, respectivamente). Em relação à influência das variáveis socioculturais, diante de /t, d, n/ não houve registro de condicionamento extralinguístico para o processo. Diante de /l/, por outro lado, o fator sexo masculino é apontado como possível condicionante da inovação. Entretanto, por limitação do corpus, essa afirmação em relação a /l/ não é categórica, sendo necessária a ampliação do corpus em etapa posterior da pesquisa para constatação mais precisa.

A pronúncia do /S/ é uma marca dialetal cuja variação é bem perceptível. A partir do “chiado” ou não do ‘s’, identificamos sotaques regionais, como o carioca. “Chiar” o ‘s’, porém, não é algo que depende só da região. Acompanhe essa thread para entender. #linguistweets #TW0515
5Dec 2021 05:30 UTC Local time *

A reelaboração de gêneros em tweets didáticos

Os gêneros discursivos, por meio dos quais interagimos, passam por reelaborações, que podem causar a criação de novos gêneros ou a inovação de gêneros já existentes. Neste trabalho, analisamos o fenômeno de reelaboração de gêneros em tweets didáticos de diversas áreas.

De acordo com o teórico da linguagem Mikhail Bakhtin (2011), cada campo da atividade humana elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais são nomeados como gêneros do discurso. Para Bakhtin (2011), conforme os campos da atividade humana se desenvolvem, os gêneros passam por modificações. Assim, gêneros primários — cotidianos e espontâneos — são reelaborados por gêneros secundários — mais complexos, que surgem a partir de determinadas demandas sociais. Pesquisas mais recentes, como a de Costa (2010), propõem que o fenômeno de reelaboração de gêneros é responsável pelas transformações pelas quais um gênero (primário ou secundário) passa, o que pode ocasionar o surgimento de um novo gênero — reelaboração criadora — ou a modificação de um gênero já existente — reelaboração inovadora externa (incorporação de características de outros gêneros em um gênero já existente) ou interna (adequação do gênero a novas exigências comunicativas) — dentro
de um contínuo entre estandardização e emergência. Neste trabalho, considera-se que gêneros secundários também são reelaborados por outros gêneros secundários, o que ocorre, por exemplo, nos chamados gêneros emergentes, que, segundo Marcuschi (2010), surgem no contexto das novas tecnologias, em especial, a internet. Dentre esses
gêneros, ressalta-se o tweet, texto de até 280 caracteres publicado no Twitter. Com base nos pilares propostos por Bakhtin (2011) para caracterizar um gênero — forma de composição, estilo e tema —, o tweet é considerado, nesta pesquisa, como um gênero do discurso, que apresenta particularidades em sua estrutura — marcada, principalmente, pelo limite de 280 caracteres —, estilo e tema — os quais variam, a depender do perfil do usuário, conforme apontam Barth e Freitas (2015). Fundamentado nessas considerações, o presente trabalho tem como objetivo identificar características de gêneros discursivos que são reelaborados na construção de tweets com propósito didático. Para isso, observamos quatro tweets que apresentam conteúdos programáticos das áreas de Ciências Humanas, Matemática, Linguagens e Ciências da Natureza. A análise dos dados mostrou que há uma grande variação de gêneros sendo reelaborados dentro dos tweets, tais como questão de vestibular, anúncio, post do Instagram, problema matemático, resumo, mapa mental, macete, entre outros. A variedade de gêneros reelaborados no Twitter demonstra postura ativa dos sujeitos de linguagem natransformação dos gêneros. Ressalta-se, ainda, que grande parte dessas reelaborações é potencializada pelos recursos multissemióticos oferecidos pelo Twitter, dentre os quais se destacam enquete, imagem, link, hashtag e retweet comentado.

Conforme a perspectiva bakhtiniana, sempre interagimos por meio de gêneros do discurso, que passam constantemente pelo processo de ✨reelaboração✨ Neste trabalho, @estrelapoliform e eu analisamos esse fenômeno em tweets com propósitos didáticos ⬇️ #linguistweets #TW0530
5Dec 2021 05:45 UTC Local time *

Actitudes hacia el español en Curitiba

Javier Badiola Glez (Instituto Cervantes)

Se expondrán resultados preliminares de un estudio sobre actitudes hacia variedades diatópicas del español realizado en Curitiba (Brasil) con un corpus de 148 informantes, estudiantes brasileños de español como lengua extranjera de diferentes niveles de dominio de la lengua meta.

Proponemos presentar parte de los resultados de un estudio sobre actitudes de estudiantes brasileños de español hacia variedades diatópicas del español. El corpus analizado está compuesto por 148 informantes, estudiantes adultos de español como lengua extranjera (ELE) del Instituto Cervantes de Curitiba (ICC), de los seis niveles de dominio del español según el Marco Común Europeo de Referencia (A1, A2, B1, B2, C1 y C2), que respondieron a una encuesta sobre variedades geolectales del español. El instrumento de estudio utilizado consistió en preguntas abiertas referentes tanto a factores de estatus como de atractivo social más una escala de diferencial semántico sobre atractivo social de las variedades de las capitales de los países hispanohablantes que comparten frontera con Brasil (Asunción, Bogotá, Buenos Aires, Caracas, La Paz, Lima y Montevideo), más Santiago de Chile y Madrid.
La recogida de datos tuvo lugar de forma presencial en septiembre de 2019 en las aulas del propio lugar de estudio de ELE, el ICC, institución perteneciente al estado español, y las encuestas fueron presentadas a cada grupo de estudiantes por sus propios profesores, hablantes de las siguientes variedades dialectales: castellana (tres profesores españoles más dos profesoras brasileñas que así se auto declararon), andina (un profesor peruano) y rioplatense (dos profesores argentinos y un profesor uruguayo).
Entre otros resultados, en la valoración del español de las capitales arriba mencionadas se verificaron actitudes muy positivas en atractivo social hacia la variedad castellana, que destaca sobre las demás en prácticamente todos los grupos de estudiantes, salvo en dos con profesores de variedad rioplatense donde fueron, en un caso, la variedad del profesor y en otro la andina, las destacadas. En el análisis de los datos agrupados según los niveles de dominio del ELE de los informantes, no obstante, la variedad castellana obtuvo las valoraciones más altas en atractivo social en todos los niveles.
En el lado opuesto, se observan actitudes negativas hacia el español de la capital hispanohablante geográficamente más próxima, Asunción, con las peores valoraciones en atractivo social por parte de los informantes de todos los niveles y de la mayoría de los grupos analizados según la variedad del profesor. Sin duda, factores históricos y socioculturales subyacentes, que exigen mayor atención por parte de investigadores, instituciones y profesores de ELE, inciden en tales valoraciones.
Por tanto, con leves variaciones en función de la variedad del profesor, se constata una preferencia en atractivo por la variedad castellana, tendencia que un posterior análisis detallado de los datos obtenidos en las preguntas de respuesta abierta, podrá respaldar o no, y que deberá contrastarse asimismo con los datos obtenidos sobre factores de estatus.

#linguistweets #TW0545 Enseñamos español en el Instituto Cervantes en Curitiba, Paraná, sur de Brasil. Paraná comparte frontera con Paraguay y Argentina y Brasil, además, con otros 5 países hispanohablantes. ¿Qué variedades del español prefieren nuestros estudiantes?