5dez 2022
06:30 UTC
#linguistweets
#abralin

Falantes (não) têm consciência da variação morfossintática

Na literatura sociolinguística, tem sido argumentado que variáveis morfossintáticas são menos sujeitas a avaliações sociais do que variáveis fonológicas (LABOV, 1993; 2001; LEVON; BUCHSTALLER 2015), decorrente, principalmente, da pouca percepção atribuída a essas variáveis e/ou de sua baixa frequência (CHESHIRE, 1996; 1999). Com efeito, Labov (1993) argumenta que a avaliação social, seja ela positiva ou negativa, geralmente é exercida apenas sobre aspectos superficiais da linguagem, como o léxico e a fonética. Formas que não se encontram na superfície tendem a não ser avaliadas socialmente. Em outros termos, falantes não são conscientes da variação em níveis gramaticais mais altos. Todavia, variáveis morfossintáticas podem fazer parte da consciência dos falantes, sendo notadas e passíveis da atribuição de significados sociais. Frente a isso, esta pesquisa objetiva expandir a discussão da consciência da variação com enfoque no nível morfossintático a partir de dois fenômenos: o uso variável de artigo definido antes de possessivos pré-nominais, em a sua casa e ᴓ sua casa, e antes de antropônimos, em vi o Pedro e vi ᴓ Pedro. Para tanto, questiona-se se falantes reconhecem diferenças nos usos variáveis de artigo definido antes de possessivos e de antropônimos. Para responder à questão, foi desenvolvido e aplicado um experimento de discriminação de sentenças com os contextos-alvo, utilizando estímulos variáveis quanto a presença/ausência de artigo definido. A análise dos dados evidencia que falantes nem sempre reconhecem diferenças nesses contextos linguísticos, com interferência da variação nos resultados: o tempo de resposta é maior quando as
sentenças são variáveis e falantes tendem a apresentar alta frequência de erro nessas sentenças. Conclui-se que falantes nem sempre são conscientes da variação morfossintática: embora haja diferentes organizações, eles tendem a não as notar, o que reforça a discussão apresentada em Labov (1993).