5dez 2022
06:30 UTC
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Psicolinguística do bilinguismo: contribuições de estudos com falantes de línguas de imigração e de sinais

Estudos psicolinguísticos têm gerado conhecimento que impacta diferentes campos da sociedade, como a educação e a saúde (CORRÊA, 2020). A Psicolinguística, em constante ascensão e atualização, é diversificada devido à amplitude de interesses de pesquisa, relações, métodos e contribuições. Apesar disso, a área ainda é jovem, pela gama de perguntas em aberto sobre os processos cognitivos da aquisição, compreensão, produção e percepção de línguas. Algumas dessas questões têm relação com as línguas minoritárias, que podem ser caracterizadas em oposição a línguas majoritárias, por estarem em uma posição mais periférica. O objetivo deste trabalho é apresentar os principais resultados de pesquisas vinculadas à Psicolinguística do bilinguismo no Brasil, enfocando estudos com
falantes de línguas de imigração e com crianças sinalizantes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), enfatizando as suas principais contribuições e perspectivas. As pesquisas com falantes de línguas de imigração têm focalizado os efeitos do bilinguismo na cognição, especialmente nas funções executivas. Esses estudos visam a replicar a chamada “vantagem bilíngue” em falantes de uma língua minoritária. Porém, de forma geral, fracassam (ABREU; LIMBERGER, 2020). Outra linha de pesquisa que tem se fortalecido nos últimos anos é sobre as influências de uma língua na outra. As pesquisas têm mostrado que a língua de imigração influencia o processamento e o uso da língua dominante (no caso, o português) e/ou de uma língua estrangeira. As pesquisas com crianças falantes/sinalizantes de Libras, abordam a aquisição de uma língua de sinais e de uma língua oral, ou seja, o bilinguismo bimodal. Os
participantes são crianças ouvintes filhas de pais surdos, comumente conhecidas por CODAs (Children of Deaf Adults), e crianças surdas usuárias de implante coclear, filhas de pais surdos ou de pais ouvintes. Os resultados revelam que a aquisição bilíngue bimodal por estas crianças é possível, e reforçam a importância da aquisição de ambas as línguas “por possibilitar uma comunicação efetiva e confortável em ambas as línguas e, de integrar grupos culturais que compartilham experiências linguísticas visuais e auditivas” (CRUZ; QUADROS, 2018, p. 356). A partir dessas pesquisas, defende-se a manutenção e expansão de um campo de investigação psicolinguística sobre línguas minoritárias. Tais estudos podem fornecer implicações para o ensino de línguas em diferentes comunidades, para programas de revitalização linguística, acesso e interação o mais cedo possível à Libras, no caso de bebês, crianças surdas e seus pais/cuidadores, bem como cooperar com discussões político-linguísticas sobre a difusão e manutenção de línguas minoritárias.