5dez 2022
06:30 UTC
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UM GESTO DE ANÁLISE DO DISCURSO JUDICIAL QUE PRETENDE QUE UMA CRIANÇA DE 11 ANOS, VÍTIMA DE ESTUPRO, DESISTA DO ABORTO LEGAL

Em 9 de junho de 2022 uma audiência desastrosa comprovada por um vídeo que foi divulgada no dia 20 de junho de 2022 por inúmeros meios de comunicação brasileiros que pretender induzir uma criança a desistir do aborto legal devido estupro. Uma violação grave ao princípio da dignidade humana que pode estar ocorrendo quotidianamente pelo Brasil sem qualquer discussão. Onde ficam o Estado democrático de Direito e a democracia, a legalidade e a moralidade, porque abundam relatos de preconceitos e arbitrariedades? Em relação ao já determinado corpus podemos questionar o seguinte: trata-se de mais um fato isolado? Estamos defronte a um discurso? Trata-se de um discurso jurídico corrente? Esse discurso é direcionado a quem? Existe alguma repetibilidade na reprodução deste
discurso? Ou o tratamento que o judiciário dá para as populações vulneráveis é especialmente diferenciado? Considera-se que esta transcrição apresenta materialidades linguísticas que possibilitarão um gesto de análise do discurso pechetiana. O corpus limitar-se-á a transcrição parcial da audiência judicial em que serão eleitas algumas sequências discursivas dentre as subsequências já explicitadas acima para compor a presente análise. Buscar-se-á, assim, vincular a linguagem às suas condições de produção, sua ideologia e sua memória. Derradeiramente, como resultado considera-se que neste corpus há a concretização de um discurso jurídico corriqueiro, cruel e racista que tem sido reproduzido inconscientemente e sem contestações no Brasil, que busca legitimar a violência estatal institucionalizada em detrimento da população minoritária e vulnerável, especialmente quanto às crianças periféricas.