5dez 2022
06:30 UTC
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As quatro partes da gramática de Anchieta (1595)

A gramática humanística poderia ser dividida em quatro partes: a letra, a sílaba, a dição e a construção, conforme os gramáticos latinos e diversos humanistas que gramatizaram os vernáculos nos séculos XV e XVI. Essa divisão em quatro partes da gramática é o tema de nossa apresentação, fudamentada pelos pressupostos teóricos da disciplina de Historiografia da Linguística, a partir de duas das suas linhas de pesquisa: a Gramaticografia, ou História da Gramática, e a Linguística Missionária, segundo o modelo teórico de Pierre Swiggers. Nosso objetivo é debater a obra Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil, de 1595, gramática organizada em dezesseis capítulos, cujo autor é o humanista e missionário S. José de Anchieta, SJ (1534-1597). A gramática de Anchieta descreve a língua dos indígenas de cultura Tupinambá, e estava dividida nas quatro partes da gramática, partindo da descrição do uso de letras do alfabeto latino para transcrição da língua indígena, da formação das sílabas, das dições (dictiones), ou palavras, e da construção, em dois níveis sintáticos oracionais: a concordância e a regência. Analisamos como Anchieta emprega esses conceitos, derivados da gramática latina e das gramáticas vernaculares renascentistas, para a descrição da língua indígena considerada a mais importante para o contato linguístico intercultural na América portuguesa quinhentista. Ademais, debatemos o processo de gramatização quinhentista da língua dos indígenas de cultura Tupinambá e seu uso social, à época, quando foi utilizada também na política missionária, com finalidade catequética, em um processo em que a língua latina e a língua portuguesa atuaram como superstratos.