5dez 2022
06:30 UTC
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Dissecando o discurso negacionista

A ascensão do discurso negacionista tem sido notória no mundo e, especialmente no Brasil, país em que políticas públicas baseadas na negação da ciência têm sido sistematicamente implementadas pelo governo federal, desde janeiro de 2019. Uma prova recente dessas ações contra o campo científico (outubro de 2021) foi o corte de aproximadamente 90% da verba destinada ao financiamento de pesquisas em diversas áreas, desmonte que foi classificado por Marcos Pontes, dirigente do Ministério da Ciência e Tecnologia, como “ilógico e equivocado”, muito embora o ministro em questão seja um grande defensor do presidente e de seus apoiadores. A aparente falta de lógica, todavia, não é aleatória, mas uma das características do funcionamento do discurso negacionista, ao lado de outros fenômenos semântico-discursivos como o inversionismo, a negação atópica, a desinformação e a presença de um enunciador sui generis, marcado pela ambiguidade de dizer sem dizer – por exemplo, com frequência, o enunciador do discurso atópico corresponde à figura de um especialista que se diz cientista, mas deturpa e contradiz as teses e os métodos científicos. As características mencionadas abrangem uma tentativa de descrever e categorizar o discurso negacionista, tal como aparece nos resultados de um trabalho já publicado no periódico Cadlin, Cadernos de Linguística, com o título “O ‘gabinete das sombras’ e o discurso negacionista no Brasil”. Na conferência internacional Linguistweets, nosso objetivo é divulgar os resultados desse trabalho em uma linguagem mais acessível ao público em geral, com vistas a despertar o interesse dos cidadãos em compreender a importância do papel dos discursos nas práticas sociais cotidianas, bem como estimular linguistas de outras áreas a conhecer e, eventualmente, se aprofundar na área de estudos do discurso, em especial, na análise do discurso de linha franco-brasileira.