5dez 2022
06:30 UTC
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O alinhamento tonal nas interrogativas do ALiB: revisitando metodologias e resultados

Esta pesquisa tem por objetivo apresentar os procedimentos metodológicos e os resultados obtidos nos estudos que vêm sendo desenvolvidos no âmbito do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Para isso, foi investigado um aspecto particular da implementação fonética da entoação: o alinhamento tonal. Sabe-se que esse fenômeno é relevante, por exemplo, na diferenciação de línguas (LADD, 1996/2008) e dialetos (GRICE, D’IMPERIO, SAVINO & AVESANI, 2005; GRICE, LADD, & ARVANITI, 2000; ANTUNES, 2011). Em face desse cenário, justifica-se a inspeção do mencionado parâmetro devido à capacidade que apresenta para atuar como um índice de regionalidade. Nesse sentido, analisaram-se dois tipos frásicos, nomeadamente, interrogativo total e interrogativo disjuntivo – ambos neutros. O primeiro é aquele que pode ser respondido por sim ou não (“Você vai sair hoje?”) e o último oferece em sua formulação dois ou mais elementos dos quais um deles será a resposta (“Você quer leite ou café?”). Todos esses enunciados são oriundos de 25 capitais brasileiras, incluindo 41 municípios interioranos que, por sua vez, pertencem aos seguintes estados: Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Cumpre destacar que a escolha dos enunciados interrogativos está pautada nas características do sistema entoacional do português, marcado por acentos tonais complexos (FROTA et al. 2015; FROTA & MORAES, 2016). Os enunciados interrogativos totais e disjuntivos do Português do Brasil, mais especificamente, são descritos, no geral, como portadores de um movimento ascendente bitonal L+H (CUNHA, 2000; SILVA, 2011; FRANCISCA, 2020; MACHADO, 2020). Com base nessas propriedades melódicas, torna-se imprescindível entender como cada um dos tons envolvidos na combinação fonético-fonológica atua ao longo da sílaba, pois existem autores (CRUZ, 2013; FROTA et al. 2015; CASTELO, 2016) que defendem um alinhamento associado ao tom baixo, L*+H, enquanto outros optam por representar o alinhamento associado ao tom alto L+H* (MORAES, 1998; MORAES, 2008; CRUZ, 2016). No que concerne ao referencial teórico adotado, seguiram-se os princípios postulados pelo Modelo Autossegmental e Métrico (PIERREHUMBERT, 1980) e pela Fonologia Prosódica (NESPOR & VOGEL, 1986). No geral, os resultados ratificam o alinhamento como relevante para a caracterização de diferenças regionais, dado o comportamento observado não só nas capitais investigadas, mas também nas cidades do interior.