5dez 2022
06:30 UTC
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Palatalização de /S/ na fala mipibuense

Este trabalho objetiva sistematizar, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística (LABOV, 2008) e da Geometria de Traços (CLEMENTS; HUME, 1995), o processo de palatalização de /S/ na fala de São José do Mipibu, cidade da região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte. Os dados foram coletados através de entrevistas sociolinguísticas realizadas com quatro participantes, subagrupados conforme gênero (masculino e feminino), faixa etária (abrangendo jovens e adultos – um jovem de 18 anos, uma jovem de 23; uma adulta de 47 anos e um adulto de 55), e nível de escolaridade (um homem e uma mulher com, no máximo, ensino médio completo e um homem e uma mulher com ensino superior em curso). O tratamento dos dados envolveu transcrição fonética de oitiva seguida de inspeção acústica das realizações de /S/ no software Praat. A interpretação do fenômeno de palatalização, nos dados da comunidade em foco, aponta a ação do Princípio de Contorno Obrigatório (OCP) como desencadeador de um processo dissimilatório que evita sequência de segmentos com traço [coronal], sendo categórica a realização palatalizada de /S/ diante das consoantes /t/ e /d/ no onset seguinte. É identificada, ainda, uma ampliação das consoantes promotoras do processo em comparação ao que relatam trabalhos anteriores, como o de Pessoa (1986): os dados registram palatalização de forma variável diante de consoantes nasal e líquida, /n/ e /l/. Diante de /n/, é identificada variação entre as produções alveolar e palatalizada de /S/ nos dados de todos os entrevistados, independentemente de características socioculturais, com predominância da realização [coronal] [-ant] [+dist]. Já diante de /l/, a palatalização se manifesta em proporção bastante inferior e na fala de apenas um informante, indicativo de que a palatalização de /S/ nesse contexto está em um estágio bastante inicial. Com isso, estabelecemos uma gradação da aplicação do processo: começa a ser desencadeado por segmentos com características mais consonantais da escola de sonoridade (/t/ e /d/, obstruintes) e passa a atingir sons menos consonantais (/n/ e /l/, nasal e líquido, respectivamente). Em relação à influência das variáveis socioculturais, diante de /t, d, n/ não houve registro de condicionamento extralinguístico para o processo. Diante de /l/, por outro lado, o fator sexo masculino é apontado como possível condicionante da inovação. Entretanto, por limitação do corpus, essa afirmação em relação a /l/ não é categórica, sendo necessária a ampliação do corpus em etapa posterior da pesquisa para constatação mais precisa.