5dez 2022
06:30 UTC
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Sentidos de gênero, raça e sexualidade na produção fílmica Madame Satã (2002)

Os sentidos não-normativos de gênero e de sexualidade sempre foram colocados num lugar de marginalidade pelos sentidos hegemônicos que constituem a nossa sociedade e, quando alinhados a outros sentidos que desafiam o corpo social branco-cêntrico e cis-heteronormativo, como os sentidos racializantes e (homo)sexualizantes, o lugar ao qual é destinado é o de invisibilidade, de apagamento, de silenciamento. Nesse sentido, sabedores do quão urgente é refletir e discutir sobre o que, durante muito tempo, foi silenciado, buscamos, através deste trabalho, compreender como
se interseccionam as discursividades de gênero, de sexualidade e de raça. Para o desenvolvimento desta pesquisa, ancoramo-nos, como suporte teórico-analítico, na Análise de Discurso de filiação materialista, tomando como premissa as ideias de Michel Pêcheux ([1975] 2009) e de Eni Orlandi (2000, 2012), nas teorias de gênero e de sexualidade (BUTLER, 2006, 2015; FOUCAULT, 1969) e nas reflexões sobre as discursividades racializantes (MODESTO, 2018), considerando o caráter interseccional dos objetos de pesquisa, isto é, o entrecruzamento das discursividades de gênero, raça e sexualidade. Mobilizamos, como material de análise, a produção cinematográfica Madame Satã (2002), com o intuito de, por meio do movimento pendular entre descrição e interpretação: i) identificar as intersecções constitutivas dos sentidos de/entre gênero, raça e sexualidade nas quais se inscreve a personagem da obra supracitada; ii) analisar a relação de sentidos entre essas discursividades na produção fílmica
selecionada e iii) compreender como esse funcionamento discursivo significa as relações sócio-históricas nessa produção, ao mesmo tempo em que forja a posição-sujeito dissidente da masculinidade negra (e) gay. Como desenvolvimento desta pesquisa, analisamos que a masculinidade negra é forjada, nas duas obras, pela subversão dos sentidos hegemônicos de gênero e sexualidade alinhados aos de raça. Através da materialização dos sentidos de gênero e sexualidade em não conformidade com as expectativas da concepção biologizante de corpo-gênero, numa formação social branco-cêntrica, nas corpos-subjetividades homem negro e gay, surgiram os gritos de autoafirmação e autodeterminação que constitui esse sujeito.